segunda-feira, agosto 28, 2006

Capitalismo

Tive uma discussão um tanto acalorada (apesar de acompanhada por chopes muito gelados) nesse final de semana. Os assuntos foram diversos e não se encerraram na mesa do bar, gerando uma discussão virtual. Como resultado da discussão, escrevi um longo e-mail com minha visão do capitalismo. Compartilho-o com vocês.

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Capitalismo: não acho um sistema de merda, muito pelo contrário. É justamente o sistema capitalista que nos permite buscar qualidade em nossas vidas. O azeite extra-virgem só é reconhecido como produto de qualidade, porque além desse existem o óleo de soja, o óleo composto, o azeite barato, o azeite mais ou menos, e por fim o extra-virgem. Fora do capitalismo, temos o azeite e o óleo de soja (se tanto) de uma única marca e um único tipo.

É o capitalismo que nos permite comprar uma guitarra Epiphone Joe Pass sem ter que pedir nada a ninguém. Aliás, é o capitalismo que permite que um guitarrista possa desenvolver o seu modelo personalizado de guitarra, e que alguns anos depois esse modelo seja produzido em larga escala por uma fábrica, exportado para um país de 3º mundo e comprada em 10 x sem juros no cartão de crédito.

O exemplo da Joe Pass demonstra mais benefícios que males do capitalismo. Temos livre iniciativa (o desenvolvimento do produto), a industrialização (produção em larga escala), a globalização (importação para o Brasil), e o sistema financeiro (parcelamento no cartão). Tudo fruto do sistema capitalista.

Um dos pontos que eu sempre me questiono quando discutimos a tal perda de qualidade é o referencial de qualidade que se adota. Se estamos perdendo, suponho que antes tínhamos mais. Só que eu não consigo enxergar essa qualidade de antigamente. Há 15 anos, se você quisesse comprar uma guitarra, teria que gastar os tubos para importar o modelo que você desejasse, ou se contentar com uma Gianini, bem meia boca, made in Brazil. A cada dia que passa, o comércio nos oferece mais e mais opções, a um preço relativo cada vez menor. A sua Joe Pass, há 15 anos, custaria o mesmo que um carro popular zero.

Falando em carros, hoje podemos escolher entre mais de 10 fabricantes, todos com diversos modelos, para segmentos diferentes de consumidor. Há 20 ou 25 anos, você podia escolher entre um Fusca, um Fiat 147 ou uma Brasília. Que fervia, que entupia o carburador, que estourava o cabo de vela, que enguiçava o platinado.

Os produtos asiáticos, de qualidade mais duvidável, tornam possível que qualquer família (mesmo pobre) tenha um aparelho de DVD em casa. Você lembra de quando se fazia consórcio pra comprar vídeo-cassete? A minha empregada doméstica tem aparelho de DVD na casa dela! Comprado no carnê, pra pagar durante um tempão, mas ela tem. E o que eu considero o mais importante no sistema capitalista, que é a livre concorrência, permite que você escolha qual o aparelho de DVD você quer comprar. Panasonic, Gradiente, Sony, Toshiba, TecToy, Philips, LG, Samsung. Você escolhe qual deles prefere.

Se em um determinado restaurante o azeite na verdade é óleo de soja, a solução é simples: não retornar! Existem muitos outros restaurantes que servem azeite de verdade. Basta freqüentar esses lugares. O mundo tá cheio de qualidades e cheio de valores, muito mais que em qualquer época, só que eles estão misturados, perdidos no meio de muita coisa sem valor nenhum. Porque existe espaço para todo o tipo de coisa: do lixo total e completo até o mais sofisticado. Do pão duro à lagosta.

Claro que o capitalismo tem seus males; principalmente em um país como o nosso, que nem aplicar o sistema econômico da maneira correta consegue. A privatização da telefonia, por exemplo, não é ruim por essência. É ruim que apenas uma empresa tenha o direito de oferecer o serviço. A Telefonica só oferece um serviço de merda porque sabe que o cliente não tem nenhuma opção. Se tivéssemos 3, 4 ou 5 empresas de telefonia em São Paulo, você poderia optar pela de melhor serviço. O Brasil criou o capitalismo sem concorrência, e isso nunca pode funcionar.

O Brasil também inventou o capitalismo sem riscos, permitindo que uma empresa como a Varig, que só dá prejuízo há mais de 10 anos não quebre de jeito nenhum, e impedindo que outras empresas ocupem o seu posto. A Aneel permitiu que as distribuidoras de energia elétrica cobrem dos usuários uma taxa extra para diminuir as perdas causadas pelo apagão. Capitalismo sem concorrência e capitalismo sem risco não são capitalismo.

O outro grande furo do sistema no Brasil não é causado pelo capitalismo em si, mas pela histórica incompetência administrativa dos governos. O capitalismo funciona à base de liberdade. Liberdade de escolha, liberdade de opinião, liberdade de iniciativa, liberdade de concorrência. O capitalismo funciona quando o estado também funciona bem. Todos são recompensados de acordo com as suas capacidades e de acordo com seus resultados. Só que no Brasil essa concorrência é injusta, visto que os serviços básicos e indispensáveis (saúde e educação) não são prestados de maneira decente pelo estado. A concorrência, que deveria ser em igualdade de condições entre todos, já começa viciada. Um moleque de favela jamais vai ter as mesmas oportunidades que eu tive e que meu filho terá. Isso é um problema de administração estatal, e não do sistema econômico.

Vivemos em uma época em que as coisas mudam muito, rápido demais. Temos que nos adaptar a todo o tempo. Nossas carreiras sofrem o efeito dessas mudanças de uma maneira muito parecida.

Exemplo: há dez anos, um fotógrafo tinha que ser muito bom para viver disso. O equipamento era caro, de difícil acesso, e fotografar era mais difícil. Ou você produzia fotos profissionais com câmeras profissionais, ou tirava fotos amadoras com câmeras amadoras. Com a evolução tecnológica, isso mudou. A distância que separava o profissional do amador era muito, muito grande. Essa distância diminuiu, e com os recursos atuais, não é difícil um amador fazer uma boa foto. Talvez de pouca qualidade se comparado a um profissional, mas muito melhor do que se poderia fazer antes. Enquanto há 10 anos um amador fazia uma foto nota 2, hoje ele faz uma foto nota 6. Isso é péssimo para os fotógrafos profissionais, mas é ótimo para todas as outras pessoas.

Resumindo, o que é prejuízo para alguns setores e indivíduos, se traduz em vantagens para a sociedade como um todo.


4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caramba, que mundo pequeno... estava fazendo uma busca no google de capitalismo e acabei aqui!!!rs...

Se cuida

16:29  
Anonymous Anônimo said...

poxa gostei muito do seu artigo sobre o capitalismo.
conserteza vou uar como referencia no meu trabalho da escola. valeu pelas dicas e sucesso a vc !!!

sr.cristiano@hotmail.com

17:52  
Anonymous Anônimo said...

Good post and this enter helped me alot in my college assignement. Say thank you you as your information.

17:27  
Anonymous Aialla Suelem said...

Nossa gostei muittoo, estava atrás de informações a respeito do captalismo para um debate e encontrei aqui. Gostei da forma como as coisas são colocadas claras e sem rodeios .
Gostei muittoo !!

11:28  

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